quarta-feira, 31 de agosto de 2011



A DESCOBERTA DO BRASIL

ou

O BRASIL A DESCOBERTO



Há muito que se sabe que não foi o Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil, até porque às terras onde ele aportou a caminho das Índias, lhe chamou Terra de Vera Cruz.
O Brasil surgiu com a grana, com o negócio. Já nasceu doente! Foi preciso encontrar por aqui um pau que desse dinheiro, conhecido como bresile, para ter entrado a “civilização”!

Passaram-se alguns anos e depois de ter sido o Brasil do Açúcar, o Brasil do Ouro e Diamantes, o Brasil do Café, chegou a era do Brasil... deles!

Deles? Sim, deles. Além dos asquerosos políticos e administradores públicos, felizmente não na totalidade, mas infelizmente numa imensissima quantidade, que chupam a res publica até ao tutano, há problemas que mostra bem que “tudo isto” é deles!

Alguns exemplos, de fazer arrepiar até pelo de jacaré:

1.- Um automóvel Hyundai, made in Coreia, exportado para todo o mundo; EUA e Brasil. Nos States custa US$ 22 mil e no Brasil US$ 69 mil. SÓ o triplo? Para quem vai a grana, hein?
2.- E muito mais escandaloso. Nem escandaloso, mas criminoso. O meu genro teve que tomar um remédio, uma vitamina para o fígado, e após pesquisar pela Internet encontrou pela “barateza” de R$ 800,00. Nos EUA vende-se em todo o lado, e custa US$ 36,50, equivalente a R$ 60,00. Aqui, 1.333% mais caro. Fazendo as contas ao contrário, nos EUA o preço é equivalente a 7,5% do preço no Brasil. E não é automóvel. É medicina para a saúde.

Há uns meses escrevi para o Minsitério da Saúde expondo o absurdo da diferença de preços dos medicamentos, por exemplo entre Brasil e Portugal (nos EUA ainda é mais barato). As diferenças são absurdas: em média o preço no Brasil é entre três a cinco vezes o de Portugal e também, da Argentina!!!
O Ministério encaminhou a minha exposição para a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – a quem compete o controle dos produtos farmacêuticos, e passado algum tempo recebi uma resposta admirável! Uma verdadeira lição de economia, eloquência e, sobretudo, arrogância e estupidez!

Informava a secretaria deste orgão público, que a lei determina que o preço de venda do medicamento não pode ultrapassar 170% do custo do produto básico da sua composição!!! E mais não disse. Uma lição de matemática para o ignorante que se atrevera a colocar, perante sexa o ministro, tão profunda questão!

Só se, e aí me curvo perante os sábios, o custo dos produtos básicos, aqui no Brasil, seja entre 500 e 1.333% mais caro do que nos EUA ou em outros países.

Você acredita nisso? Eu não.
Então para onde vai a grana? Sabido é que os medicamentos, por estas terras de Ver a Cruz, nesta terra de Via Sacra, pagam cerca de 40% de imposto. Mas não é isto que deforma esta monstruosidade.

Isto merecia uma violenta (em quantidade) manifestação pública, mas o problema é que se não tem carro de samba a abrir e fechar o cortejo, não vai ninguém.

Enchem-se as ruas com paradas gays. E juntam mais de um milhão de pessoas. Tem samba. Mas sairem à rua para manifestar a profunda aversão à ignomínia da corrupção, exigir do judiciário que meta na cadeia a cadeia de ladrões, ou para pedir detalhadas explicações sobre este absurdo do preço dos medicamentos, bem se pode conclamar o povo, do modo como se quiser, inclusive pelo Twitter, que não vão aparecer nem meia dúzia!

Do jornal “O Globo” de hoje, dia 31 de Agosto, algumas “maravilhas”:

= Governo já discute volta do imposto do cheque ! “Precisamos de uma fonte extra para a saúde” afirma o deputado vaccarezza do PT (evidente; tinha que ser do PT!).

= Falta de verbas ameaça fechar hospital em Niteroi.

= O político que na presidência cometeu a maior violência econômica já feita no país, que foi deposto por impeachment e perdeu os direitos políticos, está agora com poder de decidir como a sociedade terá acesso a informções públicas. O Brasil (já) não se espanta com fatos estarrecedores, como o de que Fernando Collor, hoje senador, é relator do projeto que decidirá sobre a divulgação de dados oficiais. (Miriam Leitão, uma grande economista e jornalista).

= Dilma, numa reunião de militantes de esquerda, em 1969, em Teresópolis, em vez de discursar para os 60 colegas, cantou uma versão sua de “País Tropical” de Jorge Ben: “Este/É um congresso tropical/Abençoado por Lenin/E confuso por natureza...” (Viva a democrata dilma!).

= Um ex-secretário de Estado do Rio, que foi o coordenador da Lei Seca, a conduzir à noite com a cara cheia, atropelou primeiro uma mãe e dois filhos pequenos, e continuando descontrolado, atropelou e matou um pedreiro. A polícia nada disse e o bandido, isso mesmo, o assassino, só se apresentou para exame de alcoolemia no dia seguinte. Nada constou. Pode ser indiciado por homicidio doloso, mas neste país... abençoado por Lenin....

= A deputada jaqueline roriz, flagrada em vídeo, inequívoco, a receber propina de R$50.000,00, em 2006, foi indiciada e pedida a sua cassação. Ontem a câmara dos deputedos votou contra a cassação da ladra. Alguns comentários dos raros políticos “melhorzinhos”: Um diz que “a absolvição legitima a impunidade” e outro “o Brasil continua sendo o país da impunidade. Só vai para a cadeia ladrão de galinha”!

= Ainda o PT não era DONO do governo, e o presidente do partido, então josé genoino, afirmava em alto e bom som: “O PT não rouba, nem deixa roubar”, Enganarou-se? Não teria querido afirmar “O PT rouba e deixa roubar... às escâncaras”?
= Desde 2005 só deputados processados foram 33. Destes, só 4 foram cassados, e um deles por não estar filiado em qualquer partido que o protegesse.

Por hoje chega... e sobra muito para se saber.

Mas continua sem ninguém ir para a rua exigir seriedade e ética. Só para as paradas gays!

31/Ago/2011











segunda-feira, 29 de agosto de 2011

DESCOBERTA DO CAMINHO MARÍTIMO
 
PARA  A  ÍNDIA




Carta (do Rei Dom Manuel) que foi a El Rey, e a Raynha de Castella com a noticia do descobrimento. [12 de Julho de 1499]



Muyto altos, muyto eixelentes Principes, e muyto poderosos Senhores. Sabem Vossas Altezas como tinhamos mandado a descobrir a Vasco da Gama, fidalgo de nossa Cassa, e com elle Paulo da Gama, seu Jrmaão, com quatro navios pelo oceano; os quais agora já passava de dous annos, que eram partidos; e como o fundamento principal desta empresa sempre fosse por nossos antepassados, de serviço de Deos nosso Senhor, e proveito nosso; provelhe por sua piedade, assy os encaminhar, segundo ho recado, que por hum dos Capitaens que a nós a esta cidade ora he chegado, ouvemos, que acharão e descobriram a Jndia, e outros Regnos, e Senhorios a ella Comarquãos; e entraram e navegaram o mar della, em que acharãao grandes Cidades, e de grande edificios, e ricos, e de grandes povoacõens; nas quaais se faz todo o trauto da especiarya, e de pedrarya, que pasa em naaos, que os mesmos descobridores virão e acharam em grande cantidade, e de grande grandeza, a Meca; e dahy ao Cairo, dhonde se espalha pelo mundo, do qual trouxerão logo agora estes cantidade, a saber: de canella, cravo, gengivre, nos noscada, e pimenta, e outros modos de especiarya e ainda os lenhos, e folhas delles mesmos; e muita pedraria fina de todas sortes: a saber: Robys, e outras; e ainda acharão terra, em que há minas douro, do qual, e da dita especiaria, e pedrarya nam trouxeram logo tanta soma, como poderam, por não levarem mercadoria. E porque sabeemos que Vossas Altezas disto ham de receber grande prazer, e contentamento, ouvemos por beem darlhe disso noteficaçam.

E cream Vossas Altezas, que segundo o que estes sabeemos, que se pode fazer, que nam háa hy duvida que segundo a disposicão da jente Christaam, que acham, posto que tam confirmada na fee não seja, nem della tenham tam inteiro conhecimento; se nam sigua, e faça muito serviço de Deos em serem convertidos, e inteiramente confirmados em sua santa fee, com eixalsamento della; e depois de serem assim confirmados, ser azo de destroyção dos mouros daquellas partes; alem de esperarmos em Nosso Senhor, que o trauto principall, de que toda a mourama daquellas partes se aproveytava, e que por suas maãos se fazia, sem outras pessoas nem linhajees nisso entenderem; por nossas ordenanças com os naturaes e navios de nossos Regnos, se mandar todo, para daquy se largamente poder prover toda a Christandade desta parte da Europa das ditas especiarias e pedraryas; que sera com ajuda delle mesmo Deos, que assy por Sua Merce ho hordena, mays caussa de nossas tençoens e propositos com mais fervor se eixercitarem por seu serviço na guerra dos mouros de nossas conquistas destas partes, para que Vossas Altezas tem tanto proposito, e nos tanta devaçam.

Muyto altos, muyto eixcelentes Principes, e muyto poderosos Senhores, nosso Senhor Deos haja sempre vossas pessoas, e Reaes Estados e sua Santa guarda.

Escrita em Lisboa [12] de Julho 1499.

Torre do Tombo (Coleção de S. Vicente, Livro 3.°, Fol. 513).

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O GLOBO                    25/08/2010                ECONOMIA

Juro do cheque especial
atinge maior
 patamar em 12 anos:
188% anuais

Consignado também avança em julho mas
novas concessões de crédito caem 5%

 
Gabriela Valente
 
• BRASÏLIA. A taxa de juros do cheque especial atingiu em julho o maior patamar em 12 anos: 188% anuais. No mês passado, quando a Selic foi elevada pela quinta vez consecutiva, os juros dessa modalidade subiram 3,3 pontos percentuais, informou ontem o Banco Central (BC). Além do aperto monetario, que puxa o custo de captação dos bancos, começa-se a sentir os efeitos do aumento da inadimplência. A taxa de atrasos superiores a 90 dias registrou o pico em 14 meses: 6,6%.
A única outra modalidade de crédito a ficar mais cara para as pessoas físicas foi o consignado (desconto em folha), que avançou 0,2 ponto percentual, a 27,9% ao ano. Os dois itens bastaram para puxar para cima os juros médios cobrados das famílias, que passaram a 45,7% anuais em julho, alta de 0,4 ponto percentual. E nos 11 primeiros dias de agosto, ja subiram a 46,4%.
O juro do cheque especial reflete o perfil do tomador, porque tem taxa diferenciada dentro da mesma instituiçção - explicou o chefe do Departamento Economico do BC, Tulio Maciel.
Para as empresas, mesmo com a inadimplência estável, o financiamento ficou mais caro em julho: 31,4% anuais (alta de 0,6 ponto percentual). Mas, até o dia 11, recuava a 30,7%.
Os dados do BC mostram ain-da que o aperto monetario iniciado em dezembro de 2010 e o prenuncio de uma crise internacional têm tido efeitos dis-cretos na concessao de empréstimos pelas instituições financeiras. 0 volume geral de crédito cresceu 1,1% em julho, a R$ 1,8 trilhao (47,3% do PIB).
Mas, pelo segundo mês consecutivo, as novas concessoes de financiamento recuaram (5%), o que pode apontar uma desaceleração, apesar de o BC dizer que isso é comum em julho. A pressao do crédito direcionado - aquele que o govemo decide como deve ser emprestado, como do BNDES -, porém, ainda é muito forte.
Em 12 meses, a expansão do crédito foi de 19,8%, muito acima dos 15% vistos pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, como saudaveis para a economia, pelo seu efeito sobre a inflação. Mas, para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio CNC), Carlos Thadeu de Freitas, é o mercado de trabalho, não o aumento do crédito, que alimenta a alta de preços.
*****
Outros índices interessantes , publicados há três dias:

- um dos mais elevados custos de tarifas aéreas do mundo! EUA US$ 0,11/km, Europa 0,14 e Brasil 0,36!
Um voo de Sidnei Camberra, de 2.300 km, custa $ 11906; São Paulo-Brasília, 1.015 km custa $ 378,37 !!!

- Custo anual de energia elétrica para um consumo de 300kw: Brasil $914,40, Portugal $723,60....

- Um - 01 - litro de gasolina: Brasil US$1,58; EUA $0,76, Argetina $0,96. E nós somos "autônomos" em petróleo!

- Juros básicos: campeão do mundo, Brasil com 6,89%, México 1,20%

- No setor de de aparelhos eltrônicos aqui é 48% mais caro do que a média de 5 países;

- Um mesmo automóvel, importado, nos EUA  e aqui, custa respetivamente US$21,8 mil e US$69,3 mil. E... vende-se!

Além disso os deputados, senadores e juízes, chegam a ganhar R$ 60,000,00/mês = US$ 36.000 = Euros 26.500

Uma festa que culmina com o Carnaval e... a corrupção!




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Enquanto não recupero o velho (quase novo) computador, vamos deixar África e viagens de Cabral em águas mornas, e vejamos um pouco o que se passa neste Brasil, quando o mundo pensa que isto aqui é um paraíso!
Seria, se...
Vale, muito, a pena ler este texto:

Dilma, ele assina em teu nome

 

DEMÉTRIO MAGNOLI

O ditador Bashar Assad encontrou nos enviados do ibas (Índia, Brasil e África do Sul) os bonecos de ventríloquo ideais para transmitir ao mundo a sua versão dos eventos sangrentos em curso na Síria. 0 comunicado final da delegação, um dos documentos mais abjetos jamais firmados pelo Brasil, pinta o cenário de um regime engajado na sua reinvenção democrática, mas assediado pela violência de grupos armados opositores. A assinatura brasileira converte Antonio Patriota em cúmplice de um Estado policial que se dedica à matança de sua população. Patriota, contudo, é funcionário de Dilma Rousseff. A assinatura dele é a dela.
O Itamaraty difunde a narrativa oficial síria, segundo a qual o derramamento de sangue deve-se à violência de setores da oposição. Há, nisso, uma nota sinistra, só audível para quem conhece o passado recente da Síria. Refiro-me a Hama e a fevereiro de 1982. Naquela cidade sunita, operavam guerrilheiros islâmicos que combatiam o regime de Hafez Assad, pai de Bashar. Após uma emboscada dos rebeldes contra forças militares, o ditador ordenou o bombardeio de toda a cidade, por terra e ar. Num tempo anterior a internet e aos celulares, há escassas, mas pungentes, imagens do resultado. No fim, Hama parecia as cidades alemãs extensivamente bombardeadas na guerra mundial.
Um dos filhos do ditador supervisionou o ataque e se gabou de matar quase 40 mil pessoas, uma cifra confirmada pelas estimativas independentes. Quando os escombros ainda ardiam, o governo vazou para a imprensa libanesa a notícia das dimensões da carnificina, enviando uma mensagem ao povo sírio. A mensagem foi decodificada, em muitos sentidos. Até há pouco, aos murmúrios, os sírios se referiam ao massacre por meio de um sombrio eufemismo: "os incidentes de Hama". Agora, enfrentando munição real, os manifestantes voltam às ruas num ânimo quase suicida pois sabem que só têm a alternativa de derrubar o regime. Patriota deveria ter a decência de pensar duas vezes antes de colar o selo do Itamaraty sobre a versão de Damasco: na linguagem dos Assad, a expressão "gangues terroristas" é a senha para aplicar a "lei de Hama".
Além de tudo, a versão é falsa. No 17 de julho, uma conferência nacional de 450 líderes opositores, laicos e religiosos, condenou a desobediência civil pacífica. 0 regime respondeu armando 30 mil milicianos da minoria alauita, a fim de reconfigurar o cenário como um conflito sectário. Artilharia, tanques e navios alvejam Hama, Homs, Deir ez-Zor e Latakia. O saldo provisório já atinge 2 mil mortos. Líderes da tribo Baqqara, de Detr ez-Zor, autorizaram o uso de armas contra incursões assassinas do Exército, de casa em casa, que não poupam crianças. Vergonha: o gesto desesperado de pessoas acuadas serve como o pretexto para Patriota reverberar a senha de uma ditadura inclemente.
Pretexto é a palavra certa. O Itamaraty não se importa com os fatos: segue uma agenda ideológica. A Constituição prescreve, no artigo 4°, que o Brasil "rege-se, nas suas relações internacionais" pelo principio da prevalência dos direitos humanos'". Dilma prometeu respeitar o artigo constitucional. O compromisso, expresso num voto contra o Irã, não resistiu a um outono. Em março. a abstenção na resolução da ONU de intervenção na Líbia evidenciou uma oscilação. Em junho, a recusa da presidente em receber a dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz, sinalizou o recuo. No 3 de agosto, a rejeição a uma condenação da Síria no Conselho de Segurança da ONU concluiu a restauração da política de Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. No seu desprezo inigualável pelo mandamento constitucional, o comunicado do Ibas equivale a uma celebração orgiástica da velha ordem.
Num “Roda Viva” da TV Cultura, indaguei a Celso Amorim sobre os motivos do governo para ignorar sistematicamente o artigo 4° da Constituição. O então ministro do Exterior retrucou invocando o princípio da autodeterminação dos povos e da não intervenção, contemplados no mesmo artigo, mas em posição inferior. A resposta vale tanto quanto as promessas reformistas de Assad. Na verdade, como fica explícito num livro do ex-secretario geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães, a linha do governo deriva de uma curiosa tradução do objetivo de promover a "Multiporalidade" nas relações internacionais. "Multipolaridade", no idioma de nossa atual cúpula diplomática, exige a redução da influência global dos EUA - o que solicitaria o apoio brasileiro aos regimes antiamericanos, sejam eles quais forem.
A Turquia perdeu a paciência com a Síria e exigiu uma imediata retirada militar das cidades assediadas. Sob pressão popular, governos árabes condenam, sem meias palavras a selvagem repressão. O Egito alertou Damasco sobre a ultrapassagem de um "ponto de nao retorno”. Nas ruas do Cairo e de Beirute, manifestações pedem o isolamento de Assad. Longe da região, irresponsável, alheio às obrigações assumidas pela comunidade internacional, o governo brasileiro se converte num dos últimos bastiões de um Estado policial sanguinário. Desse modo, numa única tacada, viola um elevado princípio constitucional da nossa democracia e agride o interesse nacional, afastando nos da meta legítima de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Não há muito a fazer. A Comissão de Relações Exteriores do Senado é presidida por um neolulista chamado Fernando Collor. A oposição renunciou ao confronto político de idéias, limitando-se a pescaria de ocasião na lagoa pútrida da corrupção nos ministérios. Os intelectuais de esquerda, sempre prontos a fulminar com os raios de sua fúria santa os desvios retóricos do editorial de um grande jornal, não produzem manifestos de contestação aos atos do lulopetismo - ainda mais se justificados pela doutrina do antiamericanismo. Resta escrever: atenção, Dilma, Patriota assina em teu nome!

DEMÉTRIO MAGNOLI é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP.

E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br



De “O Globo” – 18/agosto/2011










segunda-feira, 15 de agosto de 2011


Se alguém estava à espera do final da
História da Residência dos Jesuitas
vai ter que esperar!
O meu computador... pifou,
e lá estavam diversos textos.
Vamos ver o que se aproveita!

Até breve... se Deus quiser

quarta-feira, 10 de agosto de 2011



(Continuação – penúltima parte)

 
Historia da residência dos Padres da

Companhia de Jesu em Angola...


12.o - O Governador Dom Jeronimo Dalmeida achou o Reyno todo levantado pello que lhe foi necessário começar de novo conquistalo. No mês de Junho de 93 aiuntou os soldados que andavão auzentes da conquista, e com hum exercito se partio desta villa de S. Paulo porto da Loanda acom¬panhado também de muitos moradores. Indo ao longo do rio Coanza pella parte da província da Quiçama se vierão aiuntar os soldados de Masangano com os que de qua hião. Foi este exercito sobre hum senhor rebelado por nome Songa, queimarãolhe as casas entralhãolhe hum forte de grandes rachoadas, e matarâolhe muita gente. Hia por capitão desta gente João de Villoria com cento e secenta soldados e desoito cavalos. Passou logo o Governador com este campo as minas do sal, fez nelas hum forte iunto de agoa, e deixou em prezidio nelle perto de cem homens e quatro cavalos. Foi esta huma cousa que o Rey de Anguola e todos os imiguos mais sintirão e sentem oie que nenhuma outra perda, que lhes cauzasem os nossos. Por¬que das minas da prata fazem pouco caso, as do sal são o seu tizouro por ser a moeda corrente com que comprão peças, e todo o género de mantimentos; indo adiante conquistando esta província se vierão ao serviço de sua Magestade vinte seis fidalgos com sua gente de guerra pera aiudarem aos nossos e foi Deus servido dar lhes muitas vitorias assi em assaltos como em campanha. Estando o nosso campo perto das minas de prata de Cambambe foi necessário conquistar a hum Soba poderoso por nome Cafuche Cambare pera fiquar toda Quiçama sogeita. Nisto adoeceo o Governador gravemente e dahi a alguns mezes se veo a esta villa de S. Paulo assi pera convalecer, como para aiuntar algum socorro pera os soldados. Deixou por capitão mor do campo a Baltesar Dalmeida de Sousa, o qual foi conquistando a Cafuche e alcansou delle algumas vitorias.


CAPITULO 8.

PERDAS NOTÁVEIS QUE SOCEDERÂO ASSI EM BATALHAS COMO EM TRAIÇÕES


1.o - A primeira guerra que fez o Governador Paulo Dyas de Navaes foi no anno de 1575, em favor del Rey de Congo contra huns levantados na terra chamada Caçanze. Foi o capitão João Castalho Vellez com oitenta soldados. Os imígos cativarão a todos os nossos. Matarão vinte e tantos, os mais depois se resgatarão.

2.° - O Reyno de Benguela está do de Angola pera a banda do sul divi¬dido delle pello rio Longa, trinta legoas desta villa de S. Paulo porto da Loanda. Tinhão os nossos naquelle Reyno hum forte iunto do mar, de que era capitão António Lopez Peixoto, sobrinho do Governador Paulo Dyas. Estando de paz com a gente da terra, saio o capitão com alguns portuguezes a folgar. Os imigos que estavão em silada, saltarão com os nossos, e matarão obra de quinze. O capitão escapou a cavalo muito ferido, e falleceo antes de chegar a este porto, os do forte se recolherão em hum navio com a fazenda, e artelharia e se vierão pera esta villa. Esta perda aconteceu no anno de 78.

3.° - No anno de 79 estando o Governador Paulo Dyas de Navaes em paz com o Rey e aíudandoo em suas guerras e os Portuguezes espalhados pelo Reyno negoceando sua vida, hum portuguez muito privado dei Rey lhe deu um conselho o qual tratandoo com seus conselheiros a todos pareceo bem. E foi que mandasse matar a todos os portuguezes que avia em seu Reyno, e lhes tomasse as fazendas, porque não viessem em algum tempo a fazerlhe guerra, e tomarlhe o estado. Fingio logo o Rey huma guerra a que mandou os portuguezes que tinha na sua cidade de Cabaça que erâo quarenta os quaes pondo em fugida aos imigos fingidos, e começando de descançar forão todos mortos pellos imiguos verdadeiros, que os acompanhavão. Tomou El Rey toda a fazenda que serião mais de duzentos mil lefucos, que somão mais de sessenta mil cruzados. Matarão também a mais de mil escravos cristãos. No mesmo dia se mandarão matar os portuguezes que andavão pello Reyno negoceando, e no mesmo foi cercado de hum grande exercito o Governador como se disse no capitulo das vitorias. O autor desta traição não ficou sem castigo porque no mesmo dia foi morto com os quarenta por ordem del Rey dizendo, não he bem que viva quem fez matar a seus irmãos. Depois vendo o Rey, que o Governador lhe desbaratara seu exercito e que hía destruindo a província da liamba, tornouse a seus conselheiros, e mandouos matar, ainda que erão os principaes do Reyno chamados na língoa Tendála e Quitinga que entre nós respondem a Gover¬nador do Reyno e Regedor.
Com esta traição e bárbaro atrevimento deu o Rey de Angola claro título de iusta guerra a coroa de Portugal pera serem seus vaçalos cativos, a terra conquistada e elle desapossado do Reyno, posto que ia dantes tinha dado para isto direito, assi por ter quasi cativo seis annos a Paulo Dyas de Navaes que foi com titulo de embaixador, como também por não deixar pregar o santo Evangelho ao Padre Francisco de Gouvea da Com¬panhia de Jesus que foi com o dito embaixador a petição de Angola Inene seu pai antes orreter cativo até a morte que forão quatorze annos.

4.o- No anno de 81 mandou o Governador Paulo Dyas destruir hum senhor na Quiçama por nome Catalla. Foi diante o capitão mor Manoel João com seis soldados e hum soba amigo que se chamava Mochima com sua gente e deixou ordem que o mais corpo do exercito o seguisse. Os que hião detrás errarão o caminho e forão por outro. O capitão mor achouse sem gente mas foi lhe forçado pelejar por estar iunto dos imigos.
Fello muito valerozamente, elle e os seis que o acompanhavão, o Mochima, e os seus. Nisto ferirão no pee ao capitão, posto de giolhos jugou do montante até que acabou com todos que o seguiâo. O nosso campo quando chegou achando aos contrários com vitoria correo muito risco, mas recolherãose com ordem de Baltazar Barreto que hia na vanguarda, e André Ferreira Pereira na retaguarda. Esta perdição ainda que pequena no nu¬mero dos portuguezes mortos, foi notável, e muito sentida pella pessoa do capitão mor, e por fazer depois muita falta no arraial.

5.° No anno de 85 deu o capitão João Castanho Vellez em hum fidalgo por nome Angola Calunga na província do Mosseque e como o tomou descuidado desbaratouo facilmente, fugiu o Soba, e os nossos ouverâo grande preza de gado, e gente. Nisto o imiguo aiuntou os seus, e determi¬nou tomar os nossos as mãos, a horas de meio dia estando os nossos pera comer em hum campo razo, vem o Soba com os seus batendo as palmas em sinal de paz e de virem dar a obediência sem arcos, mas com suas facas, e cutelos com que sempre andão. O capitão e mais soldados muy alegres com tão bom sucesso asentarãose a comer sem ficarem alguns em guarda com as armas prestes. Nisto os imigos que erão muitos dão de súbito sobre os nossos, tomarãonos as mãos e aonde cada hum estava assentado ali acabou. Morrerão todos sem ficar nenhum, o soba Cambambe com sua gente e outra muita que peleiava da nossa parte por desprezarem ao imigo e se fiarem delle, e pêlos nossos serem soldados novos na terra (1).

6.° - Por falecimento do Governador Paulos Dyas de Navaes, socedeo na governança o Governador Luís Sarrão o qual se pôs em caminho, para a província do Dongo onde o Rey de Angola tem sua corte; aos 26 dias do mês de Dezembro de 89 teve novas como el Rey de Matamba mandava contra elle hum grande exercito, ávido conselho deu ao sargento mor Francisco de Sequeira cento e vinte portuguezes, com muita gente preta cuio capitão a que chamão Tendala era Manipedro homem muy esforçado e muito temido dos contrários.
O exercito de Matamba vinha marchando com muito silencio repartido em três muy grossos esquadrões, com seus arcos, e frechas, azaguaias e cutelos: por fora dos esquadrões vinha outra infinidade de gente em meia lua muy larga. O nosso exercito não hia iunto por cuidar ter o imigo mais longe, encontrarão com elle aos 29 do dito mez às 8 horas da menhãa, e postos em ordem conforme a brevidade do tempo, arremeterão os esquadrões do meio com grande estorço porem os imigos não com menor passavão por cima dos seus mortos e vinhão ferir aos nossos; nisto cerrouse a meia lua e ficou todo o nosso exército cercado entre ella e os esquadrões. Matarão ao sargento mor e aos mais dos portuguezes, alguns levarão vivos muito feridos, morreo Manipedro com muita gente preta. O capitão de Matamba não peleiou mais aquele dia por ter sua gente cançada. Sabida a nova pela terra levantarãose os Sobas senhores das terras por onde os nossos se avião de recolher e el Rey de Angola mandou muita gente de guerra a tomar os passos.
O Governador teve novas do desbarate a horas do meio dia por muitos pretos que feridos se recolhião ao arraial fugindo dos imigos que lhe vinhão no alcance; entregou logo o Governador assi a detenção do nosso campo como a ordem da retirada ao capitão mor André Ferreira Pereira. Saio em seu cavalo com obra de doze homens e alanceou hum dos contrários de no¬tável estatura, os mais fugirão e derão lugar a se salvarem os que vinhão pera nós.
Aos 30 dias do mesmo alevantou o Governador o campo, e começou de marchar largando a bagagem aos imigos recolhendo armas, e pólvora e algum mantimento, arretirada foi nesta ordem. Na vanguarda vinha o ca¬pitão João de Villoria com obra de quarenta portuguezes, no meio os pretos emparados com duas mangas de arcabuzeiros. Na retaguarda o Governador e capitão mor com Gaspar Leitão de Campos que agora he capitão da Villa de S. Paulo, e Manoel Gorge Doliveira que agora he capitão de Maçangano, e os conquistadores velhos. Desta maneira veio o nosso exercito cer¬cado sempre de inimigos peleiando muy esforçadamente e matando nelles quasi cada dia por espaço de 15 dias em que andarão perto de oitenta legoas sem morte de nenhum nem perda de cousa alguma que com sigo trouxessem. Chegarão a povoação de Callele onde estava aguardando ao Governador o alferes do Reyno Luís Mendes Raposo com doze Portugueses cercados também de inimigos com muito risco da vida. Nesta povoação descançou o exercito oito dias, e dahi se recolheo ao presidio de Bamba e a villa da vitoria de Maçangano o que foi grande mercê de Deos pêra que não se perdessem de todo as esperanças desta conquista (2).

7.o-. Este anno prezente de 94 peleiou o capitão mor do campo Baltezar Dalmeida de Sousa com Cafuche Cambare Soba poderoso da Quiçama, e ouve delle algumas vitorias em que fizerão muito os de cavalo como se disse no fim do capitolo das vitorias. O imigo não podendo resistir em campo recolheo os seus e suas famílias em humas quebradas e vale de grandes matos. O capitão mor deixou no arraial o capitão Pedro Alvares Roballo com cento e trinta soldados, se foi com obra de outros tantos, e alguns ca¬valos acometer ao ímígo a 22 dias de Abril do prezente anno. Entrarão os nossos com grande ímpeto e fizerão muito estrago nos contrários com as espingardas, e cavalos. Porem elles usando de seu ardil que he fazer menos resistência a entrada dos imigos, e carregar com toda a força ao tempo da retirada, começarão de ferir aos soldados da retaguarda, e aos cavallos de dentro dos matos donde não erão vistos e tanto que virão aos nossos embaraçados decerão com todo o pezo da guerra sobre elles, e posto que os nossos peleiarão com grande esforço, forão ali mortos quasi todos, convém a saber dous capitães Gaspar Vellozo e António da Costa com outros sol¬dados velhos, e alguns sobas que peleiavão por nós com sua gente. O capi¬tão mor peleiou até não aver mais que fazer, saio ferido, e o cavalo tanto que o tirou das quebradas cahio morto de frechadas que trazia; escaparão mais cinco portuguezes.
O Governador Dom Jeronimo Dalmeida não se achou nesta guerra por que ao tempo que começou conquistar este ímigo, adoeceo muy gravemente, e dali a algum tempo se veo a esta villa a convaleçer, e aiuntar algum remédio para sostentar aos soldados e aqui teve as novas das vito¬rias, e deste mao sucesso.
O capitão mor aiuntandose com os que ficarão no arraial e largando a bagagem veio caminho de 3 dias até hum soba que está por nos, chamado Quisíngango e pondo as costas no rio Coanza fez logo rosto ao ímigo, aloiandosse em hum lugar alto. Foi este conselho de tanta importância que se entende tomalo Deos por meio pera fazer huma grande mercê a esta conquista que he não se seguir deste desbarate nenhuma alteração na gente da terra, porque os imigos vendo ao nosso campo reformado não seguirão a vitoria, e os amigos mandarão logo sua gente de guerra a defender o nosso prezidio do sal e desbaratarão a hum soba que o vinha combater, por entenderem ser este forte de muito effeito para os defender a elles, emfrear aos contrários, e ter quieta a mor parte da província de Quiçama. Este he o estado da Conquista de Angola oie primeiro de Maio de 1594.


(1) Descreve este desastre o Padre Diogo da Costa, notando que os soldados portu¬gueses «forão logo tomados ás mãos e descabeçados sem ficar nenhum». Boletim citado, páginas 380-381. Carta de31 de Maio de 1586.

(2) Abreu de Brito dá no seu Sumario noticia particularizada desta catástrofe (Um Inquérito à vida administrativa... páginas 41), e citam-no Lopes de Lima nos Ensaios, páginas XVI-XVII, e Felner, ob. cif., páginas 169-171. Esta nossa história acrescenta pormenores interessantes especialmente sobre a retirada do exército português, que mos-tram não ter sido talvez Luiz Serrão o «péssimo general», que diz Lopes de Lima.

(a continuar; só mais uma parte)

sábado, 6 de agosto de 2011



Instruções que Vasco da Gama deu

a Pedro Álvares Cabral



Esta he a maneira que parceo a vasco da gama que deue teer pedrealvarez em sua yda prazendo a nosso senhor

Item primeiramente ante que daquy parta fazer muy bõoa hordenança pêra se nam perderem huuns nauyos dos outros nesta maneira

A saber cada uez que ouuerem de vyrar fará o capitam moor dous foguos e todos lhe Responderam com outros dous cada huum. E depois de lhe asy Réspomderem todos viraram saluo se allguua das naaos nam sofrer também a vella como a do capitam e a força do tenpo lhe rrequerer que ha tire

E asy lhe terá dado de synal que a huum fogo será por seguir E três por tirar moneta E quatro por amaynar E nêhuum nam virara nem amaynara nem tirara moneta sem que primeiro o capitam moor faca os ditos fogos E todos tenham respomdydo E depois que asy forem amaynados nam guyndará nêhuum senam depois que ho capitam mor fizer três fogos e todos Responderem e mynguando allguum nom guyndaram soomente andaram amaynados ate que venha o dya porque nom poderam tanto Rollar as naaos que no dya se nam vejam E por saparelhar fará qualquer que for desaparelhado muytos fogos por tal que os outros nauyos vaão a elle.

se os nauyos partindo desta cidade ante da travasarem aas canaryas os tomar tenpo com que ajam de tornar taram todo o posyuel por todos tornar a esta cidade E se allguum a nom poder aver trabalhara quamto poder de tomar Setuuel E dhonde quer que se achar fará logo aqui sauer omde he pêra lhe ser mandado o que faça.

se estes nauios partymdo desta costa se perderam huus dos outros com tenpo que huus corram a huu porto e outros a outro A maneira pêra se ajuntarem.

E nam lhe fazendo de noite os ditos synaes allgun dos nauios nem no vemdo pella menhã

vos fares com todos os outros o vosso caminho direito a agoada de Sam Brás.

se tornaram ante a Ilha de sam nicolao no caso desta necesidade pela doença da Ilha de Sam tiago

E aly em quanto tomardes agoa vos poderá ho dito nauyo encalçar E nam vos encalcando partires como fordes prestes e leixar lhe es hy taaes synaes pêra que sayba quamdo aly chegar que soes pasado e vos siga

Item depois que em bõoa ora daqui partirem faram seu caminho direito a y lha de samtiago e se ao tenpo que hy chegarem teuerem agoa em abastança pêra quatro meses nam deuem pousar na dita ylha nem fazer nëhuuma demora soomente em quamto lhe o tenpo seruyr

A popa fazerem seu caminho pelo sul E se ouuerem de guynar seja sobre ha bamda do sudueste E tanto que neles deer o vento escasso deuem hyr na volta do mar ate meterem o cabo de bõoa esperança em leste franco E dy em diante nauegarem segundo lhe serujr o tenpo e mais ganharem porque como forem na dyta parajeem nom lhe myngoara tenpo com ajuda de noso senhor com que cobrem o dito cabo E per esta maneira lhe parece que a nauegaçam será mais breue e os nauyos mais seguros do bussano e jsso mesmo os mantymentos se teem mjlhor e a jente yraa mais sâa.

E se for caso que nosso senhor nam queyra que allguum destes nauyos se perca do capitam deuesse de ter de loo quanto poder por ver o cabo e hir se a agoada de sam bras E se for hy primeiro que ho capitam deue se damarar muy beem e^speraito

porque he necessário que ho capitam moor vaa hy pêra tomar sua agoa pêra que dy em diante nam tenha que fazer com ha terra mas aRedar se delia ate monçenbique por saúde da jente e nam ter nella que fazer

E se for caso que o capitam moor venha primeiro a esta agoada que ho tal nauyo os naujos que se delle perder *.

* lembre que se deue dar marcas domde se façam os caminhos pêra os nauios que se asy perderem e que jsto se fará com muy booa pratica de todolos pilotos

(Nota: Confiram o texto acima com a primeira página do original, a seguir, que podem ampiar.)


06/08/2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



Quadros da História de Moçambique

Vasco da Gama na Ilha de

Moçambique


Ancorara a armada à vista da ilha, talvez um pouco a noroeste, do lado da terra firme, cuja costa se desenhava nitidamente, vivendo-se a bordo das naus o alvoroço da chegada àquelas paragens, onde lhes foram dadas tão esperançosas informações da Índia.

Vamos acompanhar os acontecimentos ocorridos nos vinte e nove dias ali passados, tomando para guia o suposto* Álvaro Velho, que a bordo da Bérrio foi anotando, quase dia a dia, os episódios da viagem.
Logo no dia da chegada, o sultão de Moçambique se encaminhou para os navios com numeroso séquito, aproximando-se do que mais perto ficara da terra, onde foi recebido jubilosamente pelo seu capitão Nicolau Coelho, comandante da caravela S. Miguel.
Por algumas horas ali se demorou, havendo amistosa troca de presentes. Ao regressar a terra quis o sultão levar consigo alguns homens do navio, para lhes mostrar a ilha em sinal de amizade. É que um equí¬voco se estabelecera desde a primeira hora: o chefe muçulmano tomou por turcos os novos visitantes, discípulos portanto do profeta, como ele o era. Os portugueses não se deram pressa de desfazer o engano; desembarcaram na ilha, foram recebidos na habitação do sultão e trouxeram para os navios os mimos que a terra dava.
Uma semana durou esse bom entendimento, voltando o chefe a visitar os navios, dando informações, chegando mesmo a acordo na cedência de dois pilotos.
Mas, talvez por ocasião da visita à armada de três abexins de religião maometana se viesse a descobrir toda a verdade. Os nossos, ao saberem da nacionalidade desses visitantes, sem dúvida julgando-os cristãos, inquiriram a respeito da Cristandade da Abissínia, mostrando-lhes as imagens dos santos patronos dos navios. O equívoco desapareceu então. As relações amistosas trocaram-se em desconfiança e mais do que isso, como nos elucida o nosso guia:
E, depois que souberam que nós éramos cristãos, ordenaram de nos tomarem e matarem à traição; mas o piloto seu, que connosco levávamos, nos descobriu tudo o que eles ordenavam de fazer contra nós, se o puderam pôr em obra.
Estava terminada a boa paz entre os portugueses e os muçulmanos da Ilha de Moçambique, nesse sábado dia 10 de Março do ano de 1498.
 
A PRIMEIRA MISSA EM MOÇAMBIQUE A 11 DE MARÇO

Perante as hostilidades nascentes mandou Vasco da Gama levantar ferro e aproximar a armada da pequena ilha que se avistava à direita, para que ali sossegadamente a tripulação pudesse desembarcar e cumprir o preceito Dominical, no dia seguinte.
É esta a primeira vez que o Diário menciona a celebração do Santo Sacrifício em terras de Moçambique. Alguns autores parece não terem atentado neste passo do Diárío, indicando a data do regresso da armada (26 de Fevereiro de 1499) para a inauguração do culto católico nestas paragens.
Uma vez ancoradas perto da pequena ilha, que depois se veio a chamar de S. Jorge ou de Goa, como um dos pilotos árabes havia ficado na ilha de Moçambique, aprontaram-se dois batéis, um sob o comando do próprio Vasco da Gama e o outro comandado por Nicolau Coelho, para irem em sua busca. Ao aproximarem-se de terra, cinco ou seis barcas cheias de homens em atitudes bélicas, agitando no ar arcos e frechas, se dirigiram para as suas duas embarcações, que iam munidas de bombardas.
O capitão-mor deu voz de fogo contra as barcas, a cujo estrondo Paulo da Gama imediatamente acorre na Bérrio.
Se as bombardas só atemorizaram parte da gente de Moçambique, a vista da caravela em movimento causou a debandada geral para terra, «antes que a eles chegasse».

Não se aproveitou Vasco da Gama de tão fácil vitória; não continuou a perseguição e mandou voltar para o ilhéu, perto do qual pousaram durante a noite. Na manhã seguinte, domingo, «debaixo de um arvoredo muito alto» a tripulação da armada assistiu à primeira missa celebrada em terra moçambicana, tendo-se alguns confessado e recebido a sagrada comunhão. Qual fosse o sacerdote que a celebrou, não o dizem os cronistas. Dos capelães da armada apenas se conhece o nome de dois: o mártir Padre Pedro da Covilhã e o Padre João Figueira, este citado por Gaspar Correia nas Lendas da índia como autor de um relato da viagem de Vasco da Gama, que o cronista declara ter compulsado, mas hoje completamente desconhecido.
E, assim confortados com os Sacramentos da sua Fé, regressaram às naus e prepararam-se para retomar a rota da índia, deixando descoberta uma parte da costa da África Oriental e a ilha de Moçambique.

 
PRIMEIRAS LINHAS DA ETNOGRAFIA MOÇAMBICANA

Deixou-as Álvaro Velho no seu Diário. Quanto aos homens alguma coisa nos dissera já das gentes de Inhambane e Quelimane, acrescentando agora para os da ilha de Moçambique que eram «ruivos e de bons corpos, e da seita de Mafamede, e falam como mouros; e as suas vestiduras são de panos de linho e de algodão, muito delgados e de muitas cores, de listras, e são ricos e lavrados».

Com o seu espírito de observador arguto vai-nos pintando os retratos, descrevendo-nos também que «trazem toucas nas cabeças, com vivos de seda lavrados com fio de ouro».

Das suas ocupações apurou que «são mercadores e tratam com mouros brancos, dos quais estavam aqui em este lugar quatro navios deles, que traziam oiro, prata, e pano, e cravo e pimenta, e gengibre e anéis de prata, com muitas pérolas, e aljôfar e rubis, e, isso mesmo, todas estas coisas trazem os homens desta terra».

Assim se exprime, visivelmente admirado, o homem do Ocidente no seu primeiro contacto com o Oriente.

Por Dr. Alcântara Guerreiro, in “MOÇAMBIQUE” – Documentário trimestral , nr. 59 – Setembro MCMXLIX

* - Durante muito tempo se duvidou da autenticidade do autor do “Roteiro de Vasco da Gama”, hoje completamente aceite como verdadeiro.

03/07/2011
















segunda-feira, 1 de agosto de 2011



Silva Porto, os Beatles

e a tal Amy !


Ao saber sobre mais esta desgraça da vida humana, que ceifa uma “pobre” bêbeda e drogada, incapaz de lidar com o chamado sucesso e com a imensidão de dinheiro que lhe entrava nos bolsos, fruto da fobia coletiva da juventude, e não só, que tem que ir gritar e aplaudir qualquer um que se faça de palhaço no palco, com qualquer música a acompanhar, lembrei-me de dois casos:

A.- Um concerto dos Beatles, em Nova York, logo no começo da sua fulgurante carreira. Os gritos histéricos das meninas que assistiam ao show, abafavam a música; quando terminaram uma das músicas, Paul Mac Cartney informou os outros membros do grupo que a seguir tocariam a música “x”. Resposta de um deles: mas essa acabei de tocar! Paul Mac Cartney tinha tocado e cantado outra! Quer dizer, o histerismo era tal, que ninguém parecia ali estar para ouvir música, mas sim para gritar!
Em face de, afinal, tamanha indiferença pela música, os Beatles resolveram não dar mais concertos!

B.- E o que é que o velho pioneiro e sertanejo angolano, Francisco Ferreira da Silva Porto tem a ver com tudo isto? Vejam uma parte do seu diário:
15 de Maio de 1846. Alevantámos do sítio Belmonte ou Proto (corrupção de Porto) crismado pelos Bienos, e fomos fazer quilombo no sítio Saxibinda(35), local dos ferreiros em ambas as margens do Cuquema36. Caminho plano, abun¬dante de arvoredo de toda a espécie, abundante de riachos, terreno fértil, argiloso, de substância preta e encarnada.

Acabamos de dizer que nos achamos no «local dos ferreiros em ambas as margens do. Cuquema», de facto assim é, e ocupam uma área ao longo do rio superior a duas léguas de extensão, e em virtude do que lhe dão o nome de «Quélinha». Estes obreiros de Vulcano fazem toda a obra de encomenda, mas quando se não dá esta espécie de trabalho, limitam o seu mister ao fabrico de enxadas(37) (é moeda corrente por estas paragens), para diversas aplicações da vida: agricultura, troca de toda a qualidade de géneros e pagamentos. Notaremos uma singularidade que se dá geralmente entre esta raça: fabri¬cando e vendendo avultado número de correntes e grilhões é crime dar a carregar tais prisões a pessoas livres e bem assim introduzi-las nas suas povoações.
Na margem de além, e numa área de oito léguas de extensão, para o noroeste, oeste e sudoeste, limitava o domínio da tribo Quimbunda(38), dividido em pequenas repúblicas com chefes hereditários; enquanto que aquém, no quadrante de leste, era domínio da tribo Nhemba, raça Ganguella(39), que sendo expulsa, deu lugar mais tarde à fundação da terra do Bié, como adiante teremos ocasião de relatar(40). A ambos os domínios, pois, chegavam os sertanejos procedentes de Luanda, Golungo, Ambaca e Pungo-Andongo(41); o comércio feito comummente com ambas as tribos, reduzia-se a escravos em grande quantidade, cera e marfim em diminuta escala, mon¬teando-se os elefantes nos mesmos locais. Presentemente o primeiro ramo acha-se estacionário em virtude de medidas repressivas, o segundo exporta-se em larga escala, e em muito maior o terceiro: e apesar do que acabamos de dizer em relação àquele os escravos sempre se compram para o serviço caseiro, no interior e litoral, e hoje em larga escala para a permutação do marfim e cera. Além de 1840 partiam suces¬sivamente as caravanas do Bié à sua permutação nos diferentes pontos do interior, aquém dessa época foram diminuindo ao ponto de que semelhante tráfico esteja restringido a território Quimbundo(42).
Outros ramos de comércio por aqui existem que, em virtude do insignificante valor do mercado, não são exportáveis do Bié para o litoral atendendo a que apenas dariam para o transporte, ao passo que é o tráfico usual dos povos da mesma raça que demoram a Oeste, porque além dos escravos, e cera em mui diminuta porção que granjeiam nos seus respectivos domínios, destes para a cidade de Benguela limitam as suas caravanas, por cujo motivo, conduzem os respectivos géneros que constam de: enxadas, criação, mantimentos, esteiras, tabaco e, finalmente, uma erva que no idioma umbundo denominam pangué(43) e macorrolo, matto-coanne, e que resulta em síncope àqueles não habituados de a fumar, e àqueles que estão habituados desde a infância. Quando se aproximarem as distâncias por via de comunicação rápida, exportador e consumidor lucrarão com a sua extracção.


(Nota 43 - Trata-se da cannabis sativa. Bastante conhecida por liamba “Liamba é um arbusto cujas folhas, depois de secas, se fumam num cachimbo especial. Em língua ganguela liamba chama-se bangüê, e o seu fumo produz uma animação, uma espécie de embriaguês que dá prazer; pela continuação e uso imoderado, essa animação ou excitação vai aumentando de intensidade, e chega a transformar-se em doidice furiosa, como tive ocasião de observar.”
No Brasil é maconha, e em muitos outros lugares marijuana.)

Das fibras do cânhamo faziam-se cordas, e das sementes, óleo. Ainda hoje a fibra se usa para o fabrico de papel e até como forragem para animais; da semente extrai-se um óleo muito usado na indústria de cosméticos como base para cremes, xampus, óleos hidratantes, etc., na indústria mecânica para vernizes, lubrificantes, combustíveis, tintas e outros, bem como para a alimentação humana em óleo, tempero, margarina, flocos de cereais, snacks e outros. O chá das suas folhas é bastante relaxante.

Silva Porto há mais de século e meio já previa que o seu valor se tornaria importante, mas mal imaginaria ele que a sua maior finalidade seria para embebedar e matar gente.
Dessa “importante” planta já muita gente sofre ou tem morrido! E tornou-se com isto um dos maiores negócios em todo o mundo: o sofrimento e a morte.

Voltando a Silva Porto, e às suas notas neste pequeno texto:
35 - Saxibinda, ou melhor ochilenga é o plural de ochivinga que em umbundo significa ferreiro.

36 - O rio Cuquema é um afluente da margem esquerda do Quanza, formando uma fronteira entre o País do Bié e o dos Ganguelas.

37- Os sertanejos compravam grande número de enxadas cuja venda em Benguela lhes dava bons lucros.

38 - Povo quimbundo significa o grupo Ovimbundo, a partir da forma singular ocimbundu na língua umbundo. A alteração do chi para qui é comum nestes casos.

39 - O nome Ganguela era utilizado pelos portugueses para designar as tribos do Sudoeste de Angola, apresentando uma afinidade cultural e lingüística.
40 - Foi Ulundo, terceiro soba do Bié, que expulsou a tribo Nhemba para além Cuquema e Quanza.

41 - Trata-se da primeira fase do comércio do Bié, em que este entreposto estava ligado à praça de Luanda.
42 - Terras habitadas pelo grupo Ovimbundo.

01/08/2011